segunda-feira, 22 de junho de 2020

#259 - Sentes falta?

A perda de um familiar é algo bastante doloroso, principalmente para quem se importa com a instituição "família".
Certa vez, um ex-amigo perguntou-me se eu sentiria falta de minha mãe e eu respondi que não, mas que sentiria falta dele. E o motivo para uma resposta, que parece tão seca, deu-se pelo fato de minha mãe ter provocado o nosso afastamento, por seu temperamento e personalidade oposta a minha. Ao que soube, o temperamento dela sempre foi explosivo, aliado ao grande stress que ela tinha com meu pai, que irrita qualquer pessoa. Aliás, quanto mais distante é o nível intelectual das pessoas, mais difícil é a convivência entre elas. Mas haviam outros motivos que fizeram com que ela se afastasse de mim e o principal deles foi a "minha independência intelectual". Sempre soube o que queria da vida e isso a incomodava desde muito novo, pois ela queria um filho médico ou engenheiro, sem nunca ter conversado ou consultado-me a respeito. A imposição sobre o que tinha que fazer, vestir, sair, relacionar etc. era demais e a minha personalidade pedia liberdade para ser quem eu era. Cheguei a fazer uma tomografia computadorizada (muito cara na época, assim como hoje), só para detectar alguma anomalia em mim, dita diversas vezes pelo meu tio. Mas o pior foi quando descobriu minha homossexualidade, coisa que ela não aceitava de jeito algum. E só foi piorando, dia-a-dia, até que... ela voltou a morar comigo e meu pai (estavam separados há anos, até que o segundo marido morreu) e minha vida virou um inferno, quando fui obrigado a sair de casa, em especial por eu estar feliz ao lado de alguém que me amava (também). Provavelmente, ela sabia de muita coisa, mas foi incapaz de dialogar comigo, deixando que eu chegasse a algumas conclusões tardiamente. Muita gente comentava de eu falar só na minha mãe e não em meu pai. E isso, provavelmente, se dava devido ao grande impacto sentimental que tínhamos um com o outro. Apesar dela amar-me como mãe, não aceitava minhas decisões e isso nos afastava.
No que diz respeito ao meu pai, o nosso convívio sempre foi neutro, ele nunca deu bola, todavia... a forma desleixada deve viver na casa irrita qualquer ser humano. E essa era uma das causas de tanto aborrecimento que minha mãe tinha, e não era exagero. Por sorte, oração e aprendizado, tenho evitado atritos, mas imagino como outra pessoa reagiria.
Do que sinto falta? Dos bons momentos, esse eu faço questão de lembrar com carinho. Os demais, são águas passadas.
¿Beijos!

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